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Machos pós-modernos


Já andava para escrever isto há algum tempo porque uma das situações não é nova. Ou melhor, não é virgem, e assim entramos logo dentro do assunto. Nos meus mais que muitos regressos a casa pela noite dentro, enquanto espero pelo comboio em Campanhã (zona bárbara por excelência), costumo aproveitar para enganar o estômago com uma bifana num dos tascos mesmo em frente à estação. Por mais que escolha, vou sempre parar ao mesmo, por uma razão muito simples: quero verificar se o que assisti na vez anterior que lá estive foi anormal ou perfeitamente normal. Mas cada vez que lá entro não é só o estômago que engano. Eu próprio saio de lá enganado!

Quero que imaginem um tasco, frequentado por gente viril, dois empregados (um deles tem idade para ser filho do outro... e se calhar até são!), bem robustos, a condizer com a clientela, rapaziada com vidas (nocturnas) complicadas, que vão ali comer um caldo verde, uma bifana, uma taça de verde branco (ou tinto) mas sempre vinho que muitas cozinheiras pensariam duas vezes em colocar na comida como ingrediente, quanto mais levar à mesa para beber. Portanto, um ambiente, para lá das 23 horas, pesado só de partilhar o mesmo espaço quanto mais de conviver...

Ao contrário do que se possa pensar, a televisão não está ligada na SportTv. Das varias vezes que lá fui - mesmo em dias de jogo do FC Porto - o canal sintonizado transmite telenovelas. Sim, telenovelas. E todos os clientes, que parecem ser assíduos, observam atentamente o desenrolar dos acontecimentos, como se estivesse a dar a Gabriel Cravo e Canela pela primeira vez. Melhor: estão petrificados no pequeno ecrã como se estivessem a anunciar (antecipadamente) a chave correcta para o Euromilhões. Os empregados servem os clientes sem tirar os olhos da televisão, também porque já sabem onde estão as coisas. Telenoveleiros. Gajos que partem logo para a porrada se alguém tem o azar de estacionar ao lado e não deixa espaço para uma manobra mais folgada... Gajos que passam a vida com o palito enfiado nos dentes, arrotam depois de uma cerveja e coçam a tomatada de meia em meia-hora. Enfim, gajos...

Para acrescentar, de táxi da estação para casa, o motorista não podia ser mais esquisito. Muito forte, barrigudo (ainda por cima andava com o volante colado à barriga e, ou muito me engano, nas curvas bem dadas roçava nas partes baixas), completamente careca, na casa dos 30 e muitos. Obviamente que me atirei ao Mercedes com melhor aspecto (Classe E com apenas 10.000 kms), o que não deixa de ser o engodo perfeito para quem anda à pesca. Assustei-me só com a música: estava a dar o YMCA, dos Village People. Rádio, só pode ser. Não, era mesmo CD. A sério que imaginei que o homem estivesse a usar meias de liga e cuecas rendadas. A seguir vieram os Imagination e depois as Sister Sledge "We Are Family". Mau, mau maria, onde eu me vim meter. Da próxima vou no Peugeot 504, de 1976, mesmo correndo o risco de ter de empurrar a viatura a meio do caminho!

O homem até podia, tal como eu, gostar SIMPLESMENTE de Disco Sound. Mas não me pareceu. Havia ali mais qualquer coisa. Piquinho a azedo como diz a minha mulher...
Bom, ela também diz que quanto mais aversão se tem a estas espécies (cada vez menos em vias de extinção) mais latente se torna a nossa própria homossexualidade. Com isso até vivo eu muito bem. Mas esta incongruência e incompatibilidade biológico-hormonal deixam-me baralhado. Será este o perfil do macho pós-moderno?

Meu caro:
Das três, apenas uma.
1º Você assistiu ao Sexo e a Cidade;
2º Você cinematizou o Segredo da Montanha ou
3º Você pertence ao lobbie :P

Excelente texto. Muito bem apanhado.
De facto, meu caro, o nosso Portugal abichanou!

São sinais dos tempos, meu querido sobrinho. Ainda bem que me avisas para não ir para esses lados, pelo menos a essas horas...
Mil beijinhos para ti e para as as mulheres da tua vida, sogra incluída...lol

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