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Entra-me, noite


Fiapos de nuvens rasgam o azul escuro do céu. A noite já ia bem dentro, mas o reflexo da lua não deixou escurecer totalmente o meu tecto ao ar livre. Ao longe, pontos de luz desfocados pelo ligeiro nevoeiro na marginal delineavam bem uma das margens da entrada da barra. Piscam luzes vermelhas e verdes, ainda mais ao longe, que vieram substituir a velha ronca de avisos roucos à navegação! Da linha do horizonte sobressai, imponente, o farol. Nada nem ninguém o consegue substituir, mesmo que as suas funções já sejam feitas por algo mais sofisticado. Três raios intermitentes, com cadência de breves segundos, iluminam a costa.


Chego com raiva e cansado de me sentir assim e só o cheiro a maresia e o suave encosto das águas no paredão libertam-me o espírito. Tremo sem sentir o frio húmido tão característicos daquela zona. É o aroma do mar que entra pela terra, enquanto as traineiras se fazem ao mar pela noite dentro. Mal se ouve o barulho do motor e as luzes seguem rumo à boca da barra, sempre com as luzes vermelhas e verdes a piscar ainda mais ao fundo. Manifestam-se uma ou duas gaivotas mais madrugadoras em horas de repouso. Voo só o do pensamento e razante em águas serenas, de essência inebriante. Faz-me inclinar a cabeça para trás, sem fechar os olhos e ver, de novo, os fiapos de nuvens que não chegam a esconder as estrelas e me faz pensar no dia de sol que ao outro dia ia estar. Inspiro fundo. Sinto e agrada-me a noite a entrar-me por todos os poros.


Entra-me, noite. Embarca-me nessa tua média luz e leva-me nas águas escuras. Mistura-me com as nuvens, dá-me asas como as gaivotas, faz-me silencioso como a traineira e não intermitente como os raios do farol. Acima de tudo, leva-me a raiva e o cansaço de a ter com a maré que não se vê mas se sente e se perde no horizonte. Faz-me a perder. Para sempre.

Excelência!

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